quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CONVITE AOS AMIGOS E AMANTES DAS LETRAS BEM OU MAL RABISCADAS

ESSE ESPAÇO PRETENDE-SE DEMOCRÁTICO. É HORA DE RASGAR, DESNUDAR, DESPIR A PALAVRA! A PALAVRA EM SEU ESTADO BRUTO, SEM LAPIDAÇÕES, CRUA, AUTÊNTICA, TRANSPARENTE.
ESSA É A RAZÃO DO TÍTULO DESSE BLOG:
PALAVRAPELADA = PALAVRA APELADA

Palavra que, uma vez despida, enrosca, transita, interfere, relaciona, mescla, funde (até confunde) e implora! A palavra e suas relações promíscuas com outras formas de manifestações verbais.Assim sendo, bem-vindos os textos que falam de tudo e de todos (ou tudo misturado) : literatura & música (o poeta francês Verlaine já gostava disso), literatura & sexo (mistura fatal!), literatura & anti-literatura, anti-literatura & conversa fiada, anti-literatura & conversa de botequim (bem ao estilo morengueira) e por aí vai, porque a palavra precisa seduzir, provocar, sugerir, até que se renda desavergonhadamente à plenitude do actus! M.V.

sexta-feira, 19 de março de 2010

palavrApelada: Contos alheios preferidos

E ainda leio em voz alta na sala de aula hoje...

Contos alheios preferidos

Existe um conto que não me sai da cabeça, desde tempos de menina colegial. Chama-se "Ninguém", de Luiz Vilela. Tempos áureos de escola. E eu já tinha familiaridade com a solidão...Ei-lo abaixo, sempre atual e belo:

A rua estava fria. Era Sábado ao anoitecer, mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros. Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo.
A porta se fechou como uma despedida para a rua. Mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia o adeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechara assim. Todos os dias ela se fechara assim.
Acender o fogo, esquentar o arroz, fritar o ovo. A gordura estala e espirra ferindo minhas mãos. A comida estava boa. Estava realmente boa, embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia uma casquinha de ovo e pensei em pedir-me desculpas por isso. sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só uma casquinha.
Busquei no silêncio da copa algum inseto, mas eles há haviam adormecido para manhã de Domingo. Então eu falei em voz alta. Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doido. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podai dizer o que eu quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão, ficar nu, arrancar os cabelos, gemer, chorar, soluçar, perder a fala, não havia ninguém para me ver. Ninguém para me ouvir. Não havia ninguém. Eu podia até morrer.
De manhã o padeiro me perguntou se estava tudo bem. Eu sorri e disse que estava. Na rua, o vizinho me perguntou se estava tudo certo. Eu disse que sim e sorri. Também meu patrão me perguntou e eu sorrindo disse que sim. Veio a tarde e meu primo me perguntou se estava tudo em paz e eu sorri dizendo que estava. Depois uma conhecida me perguntou se estava tudo azul e eu sorri e disse que sim, estava, tudo azul.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ao poeta Torquato Neto

Eu sou os subterfúgios claro-evidentes e desfolhados, feito o poeta maldito que jaz-além-de-ser:
vai, bicho, desafinar o coro dos contentes, disse.
E eu? Parodio e me reduzo à essência de poetar, apaixonadamente.
Simetricamente amparada na idéia de desmedir.
Todo cuidado é pouco, quando vivo a iminência de escrever.
À toda prova.
Á toda hora.
Por isso lambuzo da fonte adormecida. Peço licença mas:
sou a evidencia cabal da platéia-geral ensandecida.
Sou feito pedaço de tudo, sou de ferro, misturo e experimento.
O resultado é um pós-poema, quase nada:
Feito de lira, ilusão e carnaval


A boca fala.
A boca cala.
A boca instaura.
Pronuncia - o quê?
Silencia - em quem?
Evidencia: quê?
Em que boca balbucia:
- em quê?


Fragmento de um discurso antipoético:
Amores vão
Amores vêm
Amores vãos

enlaçadaemimesma
conflituo o ócio

Na soberba
verbação
do vidro opaco
da vitrine
a embalagem
deflora
espocando pro nada
passos passam pelas ruas
querem sossego
cegos, poluídos de tanto ver
pernas correm, voam, apressam o passo
No desespero de sair dali
...
Silencio
Balbucio
Silencio
Balbucio:
Sorumbaticubummmmmmmmmmmmm

(meire viana)

casulo

No meu doce ácido da vida, acid(ez)entalmente,
vivo os fugaces labuntur anni
que teimam em me desassossegar
vivo tudo ao mesmo tempo(rariamente) agora
minha capacidade de aglomerar:
compartilho, enlaço, encadeio, aconchego,misturo.

Mas por mais que me farte e me sacie de multidão
a solidão - que se disfarça em não estar em mim, estando -
aparece deselegantemente enclaustrada
No meu involucrável e inviolável olhar de poeta.

(meire viana)