tag:blogger.com,1999:blog-2604584275768203542024-03-12T19:58:37.050-07:00palavrApeladaUm blog sobre confabulações, impressões, experimentos escritos de literatura e outros textos.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.comBlogger18125tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-56401069278196039352013-06-05T20:29:00.001-07:002013-06-05T20:29:43.914-07:00Aglutinação Mundo mundo, vasto mundo Se me chamasse paulo-pedro-joão, não daria rima nenhuma. Muito menos solução. De pedra a pedra: preposições no meio do caminho. Mas não sei não não preciso de conhaque para estar comovida. não preciso de conhaque para estar comoavida.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-63565201887306765682012-03-12T11:42:00.000-07:002012-03-12T11:43:08.895-07:00Me transformo<br />Me transbordo<br />Me in<br />Off <br />Alone<br />Mi quedo sola<br />Enquanto isso<br />a SOLIDÃO<br /> SOLIDÓIMeire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-7526285911350565332010-10-07T10:01:00.000-07:002010-10-07T10:02:21.386-07:00CONVITE AOS AMIGOS E AMANTES DAS LETRAS BEM OU MAL RABISCADASESSE ESPAÇO PRETENDE-SE DEMOCRÁTICO. É HORA DE RASGAR, DESNUDAR, DESPIR A PALAVRA! A PALAVRA EM SEU ESTADO BRUTO, SEM LAPIDAÇÕES, CRUA, AUTÊNTICA, TRANSPARENTE.<br />ESSA É A RAZÃO DO TÍTULO DESSE BLOG:<br /> PALAVRAPELADA = PALAVRA APELADA<br /><br />Palavra que, uma vez despida, enrosca, transita, interfere, relaciona, mescla, funde (até confunde) e implora! A palavra e suas relações promíscuas com outras formas de manifestações verbais.Assim sendo, bem-vindos os textos que falam de tudo e de todos (ou tudo misturado) : literatura & música (o poeta francês Verlaine já gostava disso), literatura & sexo (mistura fatal!), literatura & anti-literatura, anti-literatura & conversa fiada, anti-literatura & conversa de botequim (bem ao estilo morengueira) e por aí vai, porque a palavra precisa seduzir, provocar, sugerir, até que se renda desavergonhadamente à plenitude do actus! M.V.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-82903069180086301802010-03-19T21:41:00.000-07:002010-03-19T21:43:48.347-07:00palavrApelada: Contos alheios preferidosE ainda leio em voz alta na sala de aula hoje...Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-38634732794724734202010-03-19T21:28:00.001-07:002010-03-19T21:32:01.577-07:00Contos alheios preferidosExiste um conto que não me sai da cabeça, desde tempos de menina colegial. Chama-se "Ninguém", de Luiz Vilela. Tempos áureos de escola. E eu já tinha familiaridade com a solidão...Ei-lo abaixo, sempre atual e belo:<br /> <br /> A rua estava fria. Era Sábado ao anoitecer, mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros. Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo.<br /> A porta se fechou como uma despedida para a rua. Mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia o adeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechara assim. Todos os dias ela se fechara assim.<br />Acender o fogo, esquentar o arroz, fritar o ovo. A gordura estala e espirra ferindo minhas mãos. A comida estava boa. Estava realmente boa, embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia uma casquinha de ovo e pensei em pedir-me desculpas por isso. sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só uma casquinha.<br />Busquei no silêncio da copa algum inseto, mas eles há haviam adormecido para manhã de Domingo. Então eu falei em voz alta. Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doido. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podai dizer o que eu quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão, ficar nu, arrancar os cabelos, gemer, chorar, soluçar, perder a fala, não havia ninguém para me ver. Ninguém para me ouvir. Não havia ninguém. Eu podia até morrer.<br /> De manhã o padeiro me perguntou se estava tudo bem. Eu sorri e disse que estava. Na rua, o vizinho me perguntou se estava tudo certo. Eu disse que sim e sorri. Também meu patrão me perguntou e eu sorrindo disse que sim. Veio a tarde e meu primo me perguntou se estava tudo em paz e eu sorri dizendo que estava. Depois uma conhecida me perguntou se estava tudo azul e eu sorri e disse que sim, estava, tudo azul.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-60122334842670569792010-02-26T11:41:00.000-08:002010-02-26T11:43:56.199-08:00Ao poeta Torquato Neto<em>Eu sou os subterfúgios claro-evidentes e desfolhados, feito o poeta maldito que jaz-além-de-ser:<br />vai, bicho, desafinar o coro dos contentes, disse. <br />E eu? Parodio e me reduzo à essência de poetar, apaixonadamente.<br />Simetricamente amparada na idéia de desmedir. <br />Todo cuidado é pouco, quando vivo a iminência de escrever.<br />À toda prova.<br />Á toda hora.<br />Por isso lambuzo da fonte adormecida. Peço licença mas:<br />sou a evidencia cabal da platéia-geral ensandecida.<br />Sou feito pedaço de tudo, sou de ferro, misturo e experimento.<br />O resultado é um pós-poema, quase nada:<br />Feito de lira, ilusão e carnaval </em>Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-63269704319401253192010-02-26T11:27:00.000-08:002010-02-26T11:32:42.176-08:00<a href="http://4.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/S4ghz28WYHI/AAAAAAAAAP4/g8bFc4gO4_0/s1600-h/gs318008.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 80px; height: 120px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/S4ghz28WYHI/AAAAAAAAAP4/g8bFc4gO4_0/s400/gs318008.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5442637324482928754" /></a><br /> <strong>A boca fala. <br /> A boca cala.<br /> A boca instaura. <br /> Pronuncia - o quê?<br /> Silencia - em quem? <br /> Evidencia: quê?<br /> Em que boca balbucia:<br /> - em quê?</strong>Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-35202661370809878132010-02-26T11:20:00.000-08:002010-02-26T11:26:47.955-08:00<a href="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/S4ggajqu4zI/AAAAAAAAAPw/EA56nQwXIuA/s1600-h/imagesCAZH7UNB.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 129px; height: 78px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/S4ggajqu4zI/AAAAAAAAAPw/EA56nQwXIuA/s400/imagesCAZH7UNB.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5442635790300406578" /></a><br />Fragmento de um discurso antipoético:<br />Amores vão<br />Amores vêm<br />Amores vãosMeire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-56708251937130106392010-02-26T11:19:00.001-08:002010-02-26T11:19:45.269-08:00enlaçadaemimesma<br />conflituo o ócio<br /> só <br />Na soberba <br />verbação<br />do vidro opaco<br />da vitrine<br />a embalagem<br />deflora<br />espocando pro nada <br />passos passam pelas ruas<br />querem sossego<br />cegos, poluídos de tanto ver<br />pernas correm, voam, apressam o passo<br />No desespero de sair dali<br />...<br />Silencio<br />Balbucio<br />Silencio<br />Balbucio:<br />Sorumbaticubummmmmmmmmmmmm<br /><br />(meire viana)Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-41660649790661464052010-02-26T11:17:00.000-08:002010-02-26T11:44:55.122-08:00casuloNo meu doce ácido da vida, acid(ez)entalmente, <br />vivo os fugaces labuntur anni<br />que teimam em me desassossegar<br />vivo tudo ao mesmo tempo(rariamente) agora<br />minha capacidade de aglomerar:<br />compartilho, enlaço, encadeio, aconchego,misturo.<br /><br />Mas por mais que me farte e me sacie de multidão <br />a solidão - que se disfarça em não estar em mim, estando - <br />aparece deselegantemente enclaustrada <br />No meu involucrável e inviolável olhar de poeta.<br /><br /> (meire viana)Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-44251276182791751892009-10-17T11:33:00.000-07:002009-11-19T06:34:10.980-08:00<span style="font-size:180%;">da beira do caos<br />à beira do cais<br />um corpo transborda pra dentro<br />afunila dimensões corpo adentro<br />trepida nos movimentos para além do centro<br /><br />na beira do cais:<br />caos<br /></span><br /><span style="font-size:180%;">inquieta-se no espaço vazio<br />à beira do cais<br />alaga-se no vento<br />e sopra-se no mar<br />à beira do caos<br />abisma-se no ar<br />precipita-se na margem<br />na beira do caos.</span>Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-18121998943820161372009-10-16T11:18:00.000-07:002009-10-16T11:22:15.179-07:00Uma prosa inacabada sobre MitoInda pouco li o que é mito, que ainda teima em perdurar no inconsciente seletivo e no processo coletivo da massa entoada e passiva, até não mais. Massa acomodada, que dorme à espera do dia em que.<br />Caminhamos, convictos da certeza, mas não sabemos nem. A imagem perdura. Mitos, santos, milagres, bonecas infláveis, adornos e pingüins de geladeira. A imagem embaça os olhos de quem vê mas não vê. Enjoamos fácil, esquecemos rápido e o que fica ninguém quer saber ninguém quer saber ninguém quer saber ninguém quer saber ninguém quer saber ninguém quer saber...Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-43709439218217089702009-09-08T21:34:00.000-07:002009-09-08T21:35:10.094-07:00Sou a sombra de mim, desmedida<br />Vagueio longe, eu-mim <br />conectadainterligadantenada<br />sintonizada com as bossas, as novas<br />Reinvento palavras sem fim, recrio<br />no meu<br />novo vernáculo<br />nomeio nomes<br />e insisto que elas sejam absolutas<br />quando em estado de matéria<br />Frívolas (quem sabe) e inquietas, como eu<br />eu<br />que transito por todos e todas<br />faço um brinde ao cult da art nouvelle vague<br />nos botequins de chouriços e balangandãs <br />eu<br />que vivo a eterna busca que se assom(br)a além de mim<br />Me enrosco também em meu casulo <br />Presa ainda nos ideais obsoletos do avant-garde.<br />Mas participo da massa:<br />Sou esfinge enlaçada.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-33223094291768838602009-07-01T06:47:00.001-07:002009-07-01T06:53:04.196-07:00Imagens e palavras que sugerem, apelam.<a href="http://1.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktp53Wsn0I/AAAAAAAAALE/GQnN5FgH3KU/s1600-h/texto+fantástico.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353489024892575554" style="WIDTH: 135px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktp53Wsn0I/AAAAAAAAALE/GQnN5FgH3KU/s400/texto+fant%C3%A1stico.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktpkn0rDVI/AAAAAAAAAK8/ve84vCKknYI/s1600-h/SS27035.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353488659946081618" style="WIDTH: 94px; CURSOR: hand; HEIGHT: 120px" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktpkn0rDVI/AAAAAAAAAK8/ve84vCKknYI/s400/SS27035.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktpb7MwinI/AAAAAAAAAK0/MB_qnDY0kyU/s1600-h/k1345859.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353488510528555634" style="WIDTH: 120px; CURSOR: hand; HEIGHT: 87px" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Sktpb7MwinI/AAAAAAAAAK0/MB_qnDY0kyU/s400/k1345859.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/SktpVu8Q97I/AAAAAAAAAKs/JSm7M613fqo/s1600-h/903595.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353488404158937010" style="WIDTH: 90px; CURSOR: hand; HEIGHT: 120px" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/SktpVu8Q97I/AAAAAAAAAKs/JSm7M613fqo/s400/903595.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/SktpEtU-XwI/AAAAAAAAAKk/qVjPtfdaGxM/s1600-h/k0817083.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353488111667928834" style="WIDTH: 87px; CURSOR: hand; HEIGHT: 120px" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/SktpEtU-XwI/AAAAAAAAAKk/qVjPtfdaGxM/s400/k0817083.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Skto_oPbDXI/AAAAAAAAAKc/xJ8bAN5CZRM/s1600-h/bxp54089.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5353488024403119474" style="WIDTH: 120px; CURSOR: hand; HEIGHT: 111px" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_HYHHJIIRJAA/Skto_oPbDXI/AAAAAAAAAKc/xJ8bAN5CZRM/s400/bxp54089.jpg" border="0" /></a><br /></div><br /><div><br /><br /><br /><br /></div><br /><div></div></div></div></div></div>Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-87623768458235708182009-06-23T18:42:00.000-07:002009-06-23T18:57:59.764-07:00um poema só<strong><span style="color:#ff0000;"> COM<br /> PONHO<br /> O<br /> VER</span> <span style="font-size:180%;">E</span><br /> <span style="font-size:180%;">S</span><span style="color:#ff0000;">O</span><br /> <span style="font-size:180%;">T<br /></span> <span style="font-size:130%;"> </span><span style="color:#ff0000;"><span style="font-size:130%;">s</span> </span><span style="font-size:180%;">O<br /></span> <span style="font-size:180%;">U<br /></span> </strong><strong><span style="color:#ff0000;"> A<br /> VER</span><br /> <span style="font-size:180%;">NA<br /></span> <span style="color:#ff0000;">VI</span> <span style="font-size:180%;">OS<br /></span> </strong><span style="color:#ff0000;"><strong>SO</strong><br /></span>Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-75590015549176275042009-06-22T07:39:00.000-07:002009-06-22T07:40:40.027-07:00o homem e as pedras...e assim ele largou o emprego público e resolveu catar pedras pelo caminho. E assim começou a sentir interesse em levar para casa as mais diversas espécies de pedras, mesmo sem nenhum valor, porque acharia que, com isso, estaria, de alguma forma, dando seguimento à existência. Andava pelas ruas de cabeça baixa, sempre à espera de que aparecesse algo esférico ou oval, que fosse reluzente ou opaco. Catava-as perto de obras em construção, vasculhava pedreiras, circundava regiões vizinhas à praia. Certa vez andou quilômetros até esbarrar em litorais rochosos, entrecortados de recifes e algas. Passou dias a escolher as mais bonitas, sempre carregando-as em suas algibeiras, para depois lançar tudo quarto adentro, quando a casa retornasse. Admirava seus encantos, deslizava-as por entre as mãos, tinha um olhar fixo, talvez doentio. Era o seu deleite recentemente descoberto, depois que pediu demissão do emprego. Regozijava-se das ondulações de cores, do verde quase azul, da furta-cor das quase preciosas pedras, já que não podia alcançar as verdadeiras preciosidades: seu ofício burocrático e pouco remunerado não lhe permitia maiores gastos. Fatigado de fixar olhar sobre as brilhosas, decidiu que seu ideal seria colecionar as mais rudes e inexpressivas pedras das ruas, pelo seu encanto, talvez pelo efeito tosco que algumas delas traziam e que o fascinavam. As de brilho também eram recolhidas, mas não surtia o mesmo efeito de encantamento. Passou certo tempo nas montanhas, recolhendo as mais rústicas, achando que, com isso, estaria mais próximo da essência que todo homem acabaria por se render. O gesto final, a vida final, a inevitável essência final. Seca e simples, fruto de sua existência mesquinha.<br />Na subida da montanha, encarou as subidas íngremes, arranhou-se na subida, deu cabo da descida. Pelo caminho encontrou mais e mais pedras. O peso de seu corpo quase não podia com as algibeiras rebentadas. Sentou-se. Depois que recolhia as do dia, dava-se por satisfeito, ia embora. Uma vez, em casa, extasiado, pensou consigo: não me interesso saber nomes, espécies, origem, pouco importa. Nada lhe tirava o prazer do achado, da delícia que era encontrar o que a ele lhe pertencia de direito. Sabia que havia percorrido um caminho. Precisava percorrer, seguir. Acima de tudo, seguir fundo na existência, até o fim.<br />Sem que se desse conta, já com cabelos brancos, certo dia escolheu as menos lapidadas, deitou-se na cama, cobriu-se de centenas delas. Decidiu assim permanecer por horas. Ficou a manhã toda. A tarde toda. Enfim, ficou o dia todo, sem mover sequer o lábio, de olhos fechados, até que se consolidasse o extremo êxtase de senti-las todas juntas dele. Queria sentir-se mais uma vez, desde que nasceu: pedra tosca. A sensação sólida inesgotável. A prova cabal da existência. Necessitava sentir a essência da vida, da energia bruta, solidificada, empetrecida, por sobre seu corpo já esquálido. De olhos fechados para o mundo, sentiu, por fim, a vida se esvair, e a materialização de tudo estava sendo feita. Ficou a um só fôlego, petrificado, sem mais o brilho do olhar, matéria roxa, seca, fria, tão fria quanto às pedras que escolheu.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-221065276416896182009-06-22T07:07:00.000-07:002009-06-22T07:11:10.165-07:00Ensaio para uma composição antipoéticaTomei a liberdade quase poética de uma quase licença tomada de assalto num rompante expressionista, ao sentir a relevanciânsia de estar só no mundo. E sozinha inverto, converto, invento o verbo, solto à moda de língua ferina, mas sou calma, como mar revolto. A multidão cresce na solidão de mim, e sem juízo surto no tempo impreciso do quando. O que passou por trás de mim fechou-se, deu às costas, feito um cerrar sem fim de portas, bateu asas, voou, até não mais ver. Foi só um assombroescombro do que não foi nem teria-como-ter-sido. Mas leve me elevo. Fica a sombra, fica a paisagem longínqua, fica a poeira. O tempo se fixa aqui, quer ser perene dos momentos já-eram. Não deixo, não posso com o peso do tempo no momento-já! Quero espaço maleável para ser mais de mim: vária. Tem um caminho à frente, tem rochas, tem pedras, tem asfalto. Tem homens passando. Gente de olhares frívolos olhares rochas que passam, passam, tateiam pelos espaços em branco onde demarquei terreno arenoso movediço, vão e vem, poucos ficam, atropelam, mesclam. Chego a enroscar gente, insinuar trocas, fito o olhar, lanço o bote, fisgo o enlace, laço o que nem sempre desenlaça, perco a viagem, vêm outras paragens, busco sombra, busco abrigo, encontro abrigo. Sento, paro, me esqueço, olho mais ao longe...Sou calma, procuro o branco do espaço demarcado: onde foi que eu deixei? Ondas turbulentas, olho pra frente: vou e venho, de novo esqueço. Passou, sou só de novo e só.<br />M.V.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-260458427576820354.post-78707644513225341532009-06-21T18:26:00.000-07:002009-06-21T18:31:11.914-07:00Aos amigos, meu anti-manifestoAinda que Manifesto, não preciso usar vocativos nem o tom entusiástico de uma Ode. Nada de Ei-a! Oh! Dá-lhe!<br />Prefiro gritar Viva!<br />Quero os amigos perto, quero gente, sou hedonista! Sou a favor do beijo, quero tocar na mão, quero olhar no olho para ver se há afeto compartilhado.<br />Digo não ao cinismo filosófico, ao discurso humanista de porta de botequim! <br />Digo sim à celebração da vida!<br />Viva os eus que me preenchem nos momentos de solidão - eu que sou vária, e corro o risco de esquecer de mim, para viver o outro e os outros! <br />Viva os amigos, fartos de mim, crentes em mim: eu que compartilho tudo e não sobra nada!<br />Viva o cerco que não me fecha, apontando para o sol que brilha de manhã, por mais que chova!<br />Viva a lua, que incita ao prazer, às divagações que me fazem viver minha suprarealidade!<br />Viva a humanidade, que teimo em acreditar, mesmo que a ferida da destruição e o desapego doam!<br />Nasci no carnaval, por isso, sou festiva, docemente intempestiva, loucamente serena.Meire Vianahttp://www.blogger.com/profile/08448947282247871353noreply@blogger.com3