segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ensaio para uma composição antipoética

Tomei a liberdade quase poética de uma quase licença tomada de assalto num rompante expressionista, ao sentir a relevanciânsia de estar só no mundo. E sozinha inverto, converto, invento o verbo, solto à moda de língua ferina, mas sou calma, como mar revolto. A multidão cresce na solidão de mim, e sem juízo surto no tempo impreciso do quando. O que passou por trás de mim fechou-se, deu às costas, feito um cerrar sem fim de portas, bateu asas, voou, até não mais ver. Foi só um assombroescombro do que não foi nem teria-como-ter-sido. Mas leve me elevo. Fica a sombra, fica a paisagem longínqua, fica a poeira. O tempo se fixa aqui, quer ser perene dos momentos já-eram. Não deixo, não posso com o peso do tempo no momento-já! Quero espaço maleável para ser mais de mim: vária. Tem um caminho à frente, tem rochas, tem pedras, tem asfalto. Tem homens passando. Gente de olhares frívolos olhares rochas que passam, passam, tateiam pelos espaços em branco onde demarquei terreno arenoso movediço, vão e vem, poucos ficam, atropelam, mesclam. Chego a enroscar gente, insinuar trocas, fito o olhar, lanço o bote, fisgo o enlace, laço o que nem sempre desenlaça, perco a viagem, vêm outras paragens, busco sombra, busco abrigo, encontro abrigo. Sento, paro, me esqueço, olho mais ao longe...Sou calma, procuro o branco do espaço demarcado: onde foi que eu deixei? Ondas turbulentas, olho pra frente: vou e venho, de novo esqueço. Passou, sou só de novo e só.
M.V.

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